Hipertensão arterial Dra Patricia Goldenstein

A hipertensão arterial, popularmente chamada de pressão alta, atinge cerca de 32% da população adulta no Brasil, sendo que mais da metade dos idosos é portadora dessa doença.(1,2) Apesar da grande prevalência, apenas metade da população sabe do diagnóstico.

Ela se caracteriza por elevação da pressão acima de 140 x 90 mmHg (pra ser mais exata pressão sistólica a partir de 140 ou diastólica a partir de 90 mmHg já é considerada pressão alta). A medida em consultório continua como padrão por sua simplicidade e baixo custo. O ideal é medir nos dois braços e usar o maior valor. As medidas em ambos os braços devem ser muito parecidas.

Pressões acima de 180 x 110 mmHg devem ter seu tratamento iniciado de imediato, enquanto pressões abaixo disso devem, em geral, ser confirmadas em uma data próxima antes de se iniciar o tratamento. Exceção à essa regra são os casos em que o paciente já apresenta alguma complicação clínica pela pressão elevada. Nesses casos o médico deve também iniciar o tratamento da pressão sem precisar de outras consultas para isso.(3)

As complicações clínicas mais graves da pressão descontrolada são: AVC (acidente vascular cerebral, conhecido como “derrame”) , IAM (infarto agudo do miocárdio), insuficiência cardíaca (onde o coração fica “fraco”), doença arterial periférica (onde pode resultar em casos extremos com lesões que resultam na perda do membro afetado) e doença renal crônica. (1,2)

A hipertensão está muitas vezes associada à outros distúrbios metabólicos como obesidade, elevação do colesterol, glicemia alterada (pré diabetes) ou o próprio diabetes. Todos esses distúrbios aumentam o risco de morte e das complicações clinicas já citadas.

A pressão elevada pode ser de causa primaria (ou conhecida como “idiopática”- ou seja, sem uma razão bem definida) ou de causa secundária. Nesse caso a elevação da pressão seria uma consequência de alguma outra doença no organismo. As causas de hipertensão secundárias mais comuns sâo: (4,5)

  • Medicamentosa :

    • Contraceptivos orais, particularmente aqueles que contêm doses mais altas de estrogênio.

    • Antiinflamatórios não-esteroidais (AINEs), particularmente uso crônico.

    • Antidepressivos, incluindo antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação da serotonina e inibidores da monoamina oxidase

    • Corticosteróides, incluindo glucocorticóides e mineralocorticoides

    • Descongestionantes, como fenilefrina e pseudoefedrina

    • Alguns medicamentos para perda de peso

  • Uso de cocaina

  • Doenças renais: tanto na insuficiencia renal aguda quanto na crônica o paciente pode apresentar pressão elevada. Além disso na sindrome nefrítica o paciente pode apresentar pressão elevada como parte do quadro sendo uma pista para seu diagnostico

  • Hipertensão renovascular

  • Apneia do sono

  • Feocromocitoma

  • Síndrome de Cushing

  • Hipo/hipertireoidismo

  • Coarcatação da aorta (principalmente em crianças)

Portanto somente o médico poderá avaliar, e se necessário, investigar as causas da pressão elevada.

O tratamento da pressão alta não compreende apenas o tratamento com remédios. Na realidade é fundamental o comprometimento do paciente com mudanças no seu estilo de vida(6,7). Isso envolve mudanças na alimentação, principalmente reduzindo o sal ingerido e, se possível, através da dieta DASH - Dietary Approaches to Stop Hypertension, uma dieta rica em vegetais, frutas, produtos lácteos com baixo teor de gordura, cereais integrais, aves, peixes e nozes e baixo teor de doces, bebidas açucaradas e carnes vermelhas. O padrão dietético DASH é conseqüentemente rico em potássio, magnésio, cálcio, proteína e fibra, mas pobre em gordura saturada, gordura total e colesterol.

Existem no mercado múltiplas classes de medicamentos para pressão arterial elevada. Cada classe de medicamentos tem particularidades que se adequam a situações específicas do paciente. Dependendo de cada caso, o médico deverá escolher o medicamento mais adequado. A pressão deverá ser monitorizada pelo menos até adequação do medicamento e dose correta. Após, o paciente deverá ser acompanhado, mantendo-se controles periódicos. Não esquecer que o tratamento das doenças metabólicas é parte fundamental do tratamento.

Procure seu médico para melhor avaliação do seu caso.


1 Sanz J, Moreno PR, Fuster V. The year in atherothrombosis. J Am Coll Cardiol. 2013;62(13):1131-43. 2 National High Blood Pressure Education Program Working Group on High Blood Pressure in Children and Adolescents. The fourth report on the diagnosis, evaluation and treatment of high blood pressure in children and adolescents. Pediatrics. 2004;114(2 Suppl 4th Report):555-76.3 Nova diretriz de hipertensão da ESC 20184 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Whelton PK et al. Hypertension. 2018;71(6):e13. Epub 2017 Nov 13. 5 2018 ESC/ESH Guidelines for the management of arterial hypertension. Williams B et al. ESC Scientific Document Group. Eur Heart J. 2018;39(33):3021. 6 Effect of longer term modest salt reduction on blood pressure: Cochrane systematic review and meta-analysis of randomised trials. He FJet al. BMJ. 2013;346:f1325. Epub 2013 Apr 3.7 Dietary approaches to prevent and treat hypertension: a scientific statement from the American Heart Association. Appel LJ, et al. American Heart Association Hypertension. 2006;47(2):296.Imagem disponível em Pixabay